Após pouco mais de duas horas de discussão à porta fechada, a comissão mista do diálogo para a paz anunciou, sexta-feira passada, que os mediadores vão encontrar-se com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para discutir a cessação dos ataques armados. José Manteigas, membro da equipa da Renamo no diálogo político, que assumiu o papel de porta-voz da sessão, explicou que esta comissão será responsável por avaliar as medidas de segurança para o encontro.
“Não houve ainda uma discussão substancial sobre este ponto, mas o que ficou acordado ao nível da comissão é que os mediadores precisam de manter um encontro com o presidente Afonso Dhlakama, devendo esta comissão estudar os mecanismos e as medidas de segurança para o efeito”, sublinhou Manteigas, numa comunicação sem espaço para questões.
Entretanto, este consenso surge numa altura em que parece haver intensificação dos ataques armados, os quais se arrastam para a região sul do país, particularmente para a província de Inhambane.
A comissão mista não avança prazos nem local para o encontro entre os mediadores do diálogo político e o líder da Renamo.
Avanços no primeiro ponto da agenda
Ainda na sexta-feira, a comissão mista anunciou que vai propor à Assembleia da República um modelo de descentralização. O objectivo é responder ao primeiro ponto de discussão no diálogo político, sobre a governação das seis províncias reivindicadas pela Renamo. Sem avançar detalhes, José Manteigas assegurou que a proposta vai salvaguardar as exigências da Renamo de governar Manica, Sofala, Tete, Zambézia, Nampula e Niassa, províncias onde ganhou as eleições gerais de 2014.
“Esta comissão mista vai produzir uma proposta que verse sobre a descentralização, salvaguardando o primeiro ponto (do diálogo). Esta proposta será um instrumento legal a ser submetido à Assembleia da República”, disse o chefe da delegação da Renamo no diálogo político.
Refira-se que a governação das seis províncias reivindicadas pela Renamo é recusada pela equipa do Governo no diálogo político, alegando que, se tal acontecesse, seria inconstitucional. A equipa governamental havia sugerido à Renamo a aguardar pela revisão da Constituição da República, para que a governação das províncias fosse tida em conta a partir das eleições gerais de 2019.
Renamo insiste no afastamento das FDS de Gorongosa
A Renamo divulgou, última sexta-feira, uma lista com 23 posições das Forças de Defesa e Segurança (FDS) que alega terem sido montadas recentemente na serra da Gorongosa, em Sofala, para o cerco ao seu líder, Afonso Dhlakama. A lista, divulgada à margem de um encontro entre a delegação da Renamo, na comissão mista, e os mediadores para o diálogo político, foi enviada a 27 de Julho passado ao Gabinete do Presidente da República, Filipe Nyusi, em resposta a um pedido de esclarecimento, na sequência da solicitação da Renamo de ver aliviado o cerco a Gorongosa como condição para o cessar-fogo. Segundo a lista, das três posições, consta a da região de Mazembe, que a Renamo descreve como sendo uma antiga base das suas tropas, que foi tomada pelas FDS no passado dia 27 de Maio. A Renamo diz que continua à espera da resposta formal do Presidente da República sobre a sua sugestão de ver afastadas as 23 posições das FDS como condição para o estabelecimento de tréguas no conflito militar em curso no país. Na passada quarta-feira, o chefe da delegação do governo na comissão mista, Jacinto Veloso, disse que a Renamo já tinha resposta sobre os seus condicionalismos para as tréguas. Segundo Veloso, o pedido da Renamo foi recusado, porque não faz sentido impor a retirada como condição para o cessar-fogo.


















